BIG Festival 2019

O ARISE no BIG Festival

por Matheus Morais Cruz

 

Fala galera, tudo bem?

Nós, pesquisadores do ARISE, estivemos no Brazil’s Independent Games Festival, o maior festival de games independentes da América Latina, para trazer a vocês as últimas novidades em desenvolvimento e distribuição da indústria de jogos digitais do Brasil.

Acreditamos que a participação de nosso grupo de pesquisa em eventos dessa natureza é fundamental não apenas para conhecer os projetos em desenvolvimento, sejam eles da indústria independente ou do mercado de grandes empresas, mas também para buscar parcerias e colaborações com pessoas que também se preocupam em compreender o potencial informativo e educativo dos jogos.

Nessa matéria, apresentaremos um breve histórico sobre o evento e contaremos a vocês um pouco sobre nossas impressões.

 

O que é o BIG Festival?

O Brazil’s Independent Games Festival é um evento cultural gratuito realizado pela Bits Produções Ltda. com apoio de órgãos públicos e de diversas empresas do ramo. Seu objetivo principal é levar às pessoas (sejam elas gamers ou não) um pouco mais sobre o mundo dos jogos digitais. Além de expor ao público as novidades e inovações dos games independentes do Brasil e do exterior, por meio de palestras, workshops, keynotes, game jams e o maior fórum de negócios de games da América Latina, o evento também abre as portas para jogadores e desenvolvedores independentes que buscam reconhecimento por seus trabalhos, os quais são selecionados e premiados por um júri de especialistas convidados. São aceitas inscrições de quaisquer pessoas ou representantes de empresas de qualquer nacionalidade para todos os tipos de jogos digitais seja qual for a plataforma, console ou mídia.

 

Sua primeira edição ocorreu no ano de 2012, foi sediada no Museu de Imagem e Som de São Paulo – MIS, e, embora sendo a pioneira, atraiu um grande número de pessoas. Os jogos foram premiados dentro das categorias de: 1) Melhor jogo, 2) Melhor arte, 3) Melhor narrativa, 4) Melhor gameplay, 5) Melhor som, 6) Revelação Brasil, e 7) Melhor jogo pelo voto popular. Além disso, contou com o DemoNight, uma competição de uma noite de demonstração de protótipos e projetos inacabados, premiando o melhor projeto de jogo em desenvolvimento, sendo uma versão anterior do atual BIG Starter. Como o BIG Starter, foram aceitos projetos de jogos digitais brasileiros com demos jogáveis ou que já foram desenvolvidos, mas que ainda não haviam sido publicados.

 

Em 2013 o evento não aconteceu, mas de 2014 até hoje, o BIG Festival vem apresentando edições anuais. Em 2015, a DemoNight deu lugar ao BIG Starter, que teve como finalistas jogos nas categorias de Melhor Projeto Entretenimento e Melhor Projeto Educacional. Nessa edição, também outras duas categorias de premiação foram criadas: 1) inovação e 2) melhor jogo educacional ou de aprendizado. Essa foi a primeira vez que o BIG Festival passou a dar mais espaço para a questão educacional dos jogos digitais, atraindo um público ainda maior e mais heterogêneo.

No ano de 2016, em sua quarta edição, o BIG Festival atingiu o recorde de público, recebendo cerca de 18.400 visitantes, sendo 2.400 profissionais do setor! O evento recebeu grande atenção da mídia, pois, além das tradicionais premiações, ocorreram também palestras, reuniões e workshops apresentados por profissionais brasileiros e do exterior abordando a importância do investimento no mercado nacional de games.

De lá pra cá, em cada edição, o festival traz novidades que atraem o grande público. Palestras, oficinas, workshops, debates e experimentos em robótica e realidade virtual, capacitações, parcerias de negócios, competições e exposições de games são apenas algumas das atrações proporcionadas pelos organizadores do evento. O BIG Festival se tornou tão importante que virou até objeto do curso online O setor de games no Brasil: panorama, carreiras e oportunidades, criado a partir de uma iniciativa do Ministério da Cultura e do Núcleo de Estudos em Economia Criativa e da Cultura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NECCULT-UFRGS), disponível no repositório de cursos online Lúmina.

 

O Brazil’s Independent Games Festival – 2019

A edição de 2019 do BIG Festival ocorreu em São Paulo entre os dias 27 e 30 de junho, no Clube Homs, Avenida Paulista. Foi uma realização da SpCine, Prefeitura de São Paulo, Governo do Estado de São Paulo, Secretaria Especial da Cultura, Ministério da Cidadania, tendo sido promovido pela Associação Brasileira das Empresas Desenvolvedoras de Jogos Digitais (Abragames) em parceria com a Brazil Games, com patrocínio do Prodesp, Desenvolve SP, Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e Agência Nacional do Cinema (ANCINE), e apoio de diversas empresas de desenvolvimento de games, prestação de serviços, eSports, músicas, publicação/distribuição e produção audiovisual.

 

Nessa edição, foram selecionados 54 games para as categorias de: 1) Melhor jogo (GRIS – Nomada Studio, Espanha); 2) Melhor jogo brasileiro (Adore – Cadabra Games); 3) Melhor jogo da América Latina (Quantum League – NGD Studios, Argentina); 4) Melhor Arte (GRIS – Nomada Studio, Espanha); 5) Melhor narrativa (Forgotten Anne – ThroughLine Games, Dinamarca); 6) Melhor gameplay (JUMPGRID – Ian MacLarty, Austrália); 7) Melhor som (Unheard – NEXT Studios, China); 8) Inovação (Pixel Ripped 1989 – ARVORE Immersive Experiences, Brasil); 9) BIG Impact: Categoria Educacional (Cidade em Jogo – Fundação Brava e Flux Games, Brasil; 10) BIG Impact: Categoria Questões Sociais (Marie’s Room – like Charlie, Bélgica; 11) BIG Impact: Melhor Jogo da Diversidade (Huni Kuin: Yube Baitana  – Bobware/Beya Xinã Bena, Brasil); 12) Melhor jogo de estudante (Burning Daylight – Desenvolvido por Miyu Distribution. na instituição ISART Digital, França); 13) Melhor jogo mobile (Starlit On Wheels – Rockhead Studios, Brasil); 14) Melhor multiplayer (Spitlings – Massive Miniteam GmbH, Alemanha); 15) Melhor jogo infantil (It’s Paper Guy! – The Paper Team, França); 15) Melhor Jogo de XR/VR (Moss – POLYARC GAMES, Estados Unidos); 16) Melhor jogo – voto popular (Spaceline Crew – Coffeenauts, Brasil); 17) Vencedor Humble BIG New Talent Award (Space Routine – Menic Games, Argentina); e 18) Nordic Game Discovery Contest (Grashers – Pink Array, Brasil). Além destes, foram selecionados pela curadoria do BIG Festival, na mostra não-competitiva Panorama Brasil, 21 jogos, sendo 8 desenvolvidos por estudantes.

Alguns jogos, em especial, chamaram nossa atenção por trazerem em sua narrativa elementos baseados em aspectos históricos e/ou arqueológicos. Esse é o caso dos jogos Huni Kuin: Yube Baitana, Wahkan, O Conto de Ahed e Angola Janga.

Huni Kuin: Yube Baitana é um jogo brasileiro de plataforma em 2D desenvolvido pela Bobware em colaboração com o povo indígena Huni Kuin (Kaxinawá) do Rio Jordão, no estado do Acre. Disponível em cinco idiomas (hãtxa kuin, português, inglês e espanhol), o game leva o jogador a conhecer cinco histórias tradicionais desse povo e demonstra o grande potencial que os jogos digitais podem representar para a preservação das tradições e culturas indígenas.

Disponível em https://www.bigfestival.com.br/

 

Embora Wahkan seja um jogo ficcional, ele traz elementos genéricos representativos de comunidades tribais da América. Desenvolvido pelo DigiPen Institute of Technology Europe – Bilbao, da Espanha, o jogador controla um xamã que deve superar os obstáculos da plataforma puzzle aprendendo a utilizar novas habilidades mágicas.

Disponível em https://games.digipen.edu/games/wahkan

 

Desenvolvido por João Laureth, aluno de Design de Jogos da Universidade do Vale do Itajaí, com estilo gráfico em Pixel Art, O Conto de Ahed apresenta um mundo fantástico inspirado na cultura árabe palestina, no qual o jogador controla Ahed, uma garota que trilha uma longa jornada para se tornar a líder de seu povo, resolvendo enigmas e enfrentando as consequências de seus atos.

Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=eKOgre7l5JE

 

Desenvolvido pelo Sue The Real Studio, Angola Janga foi um dos jogos finalistas do edital KOHQ2 fomentado pela SPcine (2018). É baseado no quadrinho/romance gráfico de mesmo nome, escrito e desenhado por Marcelo D’Salete, o qual recebeu o Troféu HQ Mix de “melhor edição especial nacional” e o Prêmio Jabuti de “melhor história em quadrinhos”, ambos em 2018. A narrativa se baseia na história do Quilombo de Palmares e aborda temas relacionados à escravidão no Brasil. Com elementos de aventura e puzzle, o jogador deve ajudar Soares e Andala a encontrar o caminho para o quilombo, onde poderá encontrar segurança após fugir de um engenho. Além de trazer elementos históricos importantes para a compreensão do período histórico colonial e das dinâmicas da escravidão no Brasil, o jogo aborda questões essenciais sobre representatividade e ancestralidade do povo negro.

Disponível em https://www.suethereal.com/angolajanga

 

A sétima edição também contou com palestras e eventos, divididos entre os seguintes ramos: Trilha, BIG Audio, BIG Awards, BIG Business, BIG Careers, BIG Creative, BIG Dev, BIG Diversity, BIG Educator, BIG eSports, BIG Impact, BIG Public Policies, BIG Tech and Tools, BIG XR/VR, Casos de Sucesso, Curadoria Spcine, GameDoc, Sugestão do Público e Workshops. Cada ramo foi responsável por congregar palestrantes com temas que dialogassem entre si, a fim de proporcionar aos visitantes maior facilidade para assistir àquilo que mais os interessassem.

Dentre estes ramos, o BIG Educator foi um dos que mais impressionou o público ao trazer profissionais da área da educação básica responsáveis por aplicar em sala de aula projetos interdisciplinares de desenvolvimento de games digitais e board games com objetivos educativos. Além do mais, esta foi a primeira edição a trazer o BIG Educator, ramo que recebeu, de acordo com os organizadores, mais de 50 inscrições. Nada mau para uma estreia, né?!

 

Dessa forma, embora seja um evento cuja preocupação maior é aquecer a indústria e comércio de jogos digitais no Brasil, reunindo em um mesmo ambiente empresários, estudantes, desenvolvedores independentes e representantes de órgãos governamentais, os organizadores também abrem espaço para iniciativas não necessariamente comerciais, mas que tenham em seu âmago a vontade de validar a importância do desenvolvimento e aplicação de jogos em outros setores que não apenas a economia e o lazer.

Do ponto de vista do público, o festival também foi um sucesso. Embora os números oficiais ainda não tenham sido divulgados, acredita-se que, devido à ótima organização e localização e à grande diversidade de atrações, essa tenha sido a edição com maior número de visitantes.

Logo, as expectativas para a próxima edição são altas. O que será que a organização trará de novidade? Isso não sabemos, mas o que podemos dizer é que estaremos lá, em 2020, para descobrir!

 

Para saber mais sobre o evento e conhecer os jogos finalistas de cada categoria e os palestrantes, acesse o site www.bigfestival.com.br.

 

Confira abaixo uma galeria com imagens que fizemos no evento.